A IA está repetindo os erros da mídia social? 4 alertas que não podemos ignorar
Poucas tecnologias entraram em nosso cotidiano com a força e a promessa da Inteligência Artificial, que acena com o potencial para "curar doenças, reinventar a educação, e desvendar descobertas científicas". No entanto, em meio ao entusiasmo, surge uma questão crucial: estamos realmente considerando os riscos de implementar essa tecnologia em massa na sociedade? Tristan Harris, cofundador do Center for Humane Technology, oferece um aviso crucial, argumentando que a euforia atual nos cega para um padrão de comportamento perigosamente familiar.
O caminho da IA parece perigosamente familiar
A analogia com a mídia social é clara e preocupante. Ela começou com a nobre promessa de conectar pessoas e, de muitas formas, conseguiu. Contudo, também se tornou um motor para "polarização, desinformação e vigilância em massa".
Harris argumenta que esse resultado negativo não foi um acidente inevitável. Foi o produto de escolhas específicas, feitas por um pequeno grupo de empresas que priorizaram o crescimento rápido acima de tudo. Agora, a pergunta é se a IA seguirá o mesmo roteiro. A resposta, segundo Harris, reside em abandonar a perigosa noção de que este caminho é inevitável.
Os resultados negativos não são inevitáveis, são uma escolha
O ponto nevrálgico do argumento de Harris, e talvez o mais importante para o público entender, é que a forma como a IA será integrada à nossa vida não é um destino tecnológico predeterminado, mas sim uma escolha. Esta é uma intervenção crucial no debate, pois desafia a narrativa de "determinismo tecnológico" frequentemente promovida pelo Vale do Silício, que nos leva a aceitar passivamente qualquer futuro que a tecnologia nos imponha.
As consequências que enfrentaremos dependem diretamente das decisões que "um pequeno punhado de empresas" está tomando neste exato momento, muitas vezes seguindo a mesma mentalidade do passado: a de "mover-se rápido e quebrar coisas", sem uma compreensão completa do que está sendo quebrado no processo.
A pressa para inovar está ignorando a segurança humana
A crítica se concentra na atual corrida das empresas de tecnologia, que prioriza a velocidade e o poder dos modelos de IA em detrimento da segurança e da compreensão de seus riscos. É exatamente essa mentalidade de "lançar primeiro, consertar depois" que gerou os piores excessos da mídia social, e que agora ameaça se repetir em uma escala ainda maior com a IA.
Essa implementação, que Harris define como "imprudente" (reckless rollout), é o que conecta a ambição tecnológica aos perigos reais. Se a corrida pela atenção na mídia social degradou o discurso público, a corrida pela supremacia em IA, uma tecnologia exponencialmente mais poderosa, arrisca degradar a própria cognição e estrutura social.
O risco final: uma "civilização mais fraca"
Para Harris, o perigo mais profundo não é apenas tecnológico, mas civilizacional. A questão não é se um supercomputador vai dominar o mundo, mas se a integração apressada e mal planejada da IA vai erodir as fundações da nossa sociedade.
Sua advertência é direta e impactante:
"Se implementarmos a IA de forma imprudente, de uma maneira que cause psicose por IA ou suicídios de crianças ou degrade a saúde mental ou faça com que toda criança terceirize seus deveres de casa, é muito óbvio que a trajetória de longo prazo é que teremos uma civilização mais fraca."
A "civilização mais fraca" que Tristan Harris descreve não é um futuro distópico de ficção científica; é o resultado lógico e previsível de repetirmos os mesmos erros da era da mídia social em uma escala sem precedentes. A história nos deu um roteiro claro dos perigos de priorizar a velocidade sobre a responsabilidade. Com a Inteligência Artificial, temos a rara oportunidade de aprender e construir um futuro diferente. A questão que fica é: será que conseguiremos encontrar um caminho onde a inovação da IA se alinhe verdadeiramente com o melhor para a humanidade?
Fonte:
https://www.gzeromedia.com/podcast/gzero-world-podcast/risks-reckless-ai-tristan-harris#toggle-gdpr